LIGA DOS CAMPEÕES: O MUNDO DO FUTEBOL VAI PARAR NESTE SÁBADO


Lisboa - Por que a final da Liga dos Campeões, neste sábado, não é apenas mais uma decisão? Porque no clássico Real Madrid x Atlético sobram ingredientes especiais, dentro e fora de campo. A primeira decisão do torneio a opor dois times da mesma cidade vai, também, promover um duelo de estilos de jogar futebol. Além de colocar em choque rivais em realidades muito diferentes.

E mais: o maior jogo de clubes do planeta reúne, às vésperas da Copa do Mundo, 21 jogadores, entre titulares e reservas, convocados para o Mundial. Serão 12 no Real, nove no Atlético. Selecionáveis de oito países: Espanha, Portugal, Brasil, Uruguai, Argentina, Croácia, França e Bélgica. Uma realidade que mistura charme e apreensão. Ao fim de uma temporada exaustiva na Europa, o jogo é marcado por lesões que ameaçam tirar estrelas de campo. Cristiano Ronaldo, após suspense, vai jogar. Benzema, Pepe e Diego Costa são dúvidas. França, Portugal e Espanha sofrem. A Copa também.

Os elencos de Real Madrid e Atlético têm, juntos, valor de mercado estimado em R$ 2,8 bilhões. Clubes ricos, times que parecem seleções internacionais e um eficiente trabalho de marketing, de valorização da marca, levaram a Liga dos Campeões e, em especial a sua decisão, a atrair mais atenção do que parte considerável dos jogos da Copa do Mundo.

O Atlético de Simeone ganhou a simpatia mundial ao enfrentar gigantes de forma destemida , ganhar o Campeonato Espanhol, alcançar a final europeia. Já fez história, parece chegar mais leve à decisão. O Real Madrid vive há 12 anos a obsessão da décima Liga dos Campeões, gastou fortunas pela taça mas, desde 2002, não jogava sequer a final. Quis o destino que o fizesse com Cristiano Ronaldo atuando justamente em Lisboa, liderando um time cheio de talentos admiráveis.

- Desde que ganhamos a nona, nos cobram a décima - disse Casillas, goleiro do Real, campeão em 2000 e 2002. - Finais são cada vez melhores. Quando você é novo, não pensa nas coisas. Agora, dá mais valor. E passaram-se 12 anos...

Duelo de estilos

Em campo, estilos distintos. Consequência dos perfis dos jogadores, dos treinadores, do dinheiro que forma elencos mais ou menos ricos. O Atlético do esforço, da abnegação, da força. O time compacto que marca à exaustão, que adora o jogo aéreo.

- Pode-se ganhar um jogo com ocupação de espaço, com posse de bola, com contra-ataque. Em futebol não há verdade absoluta - disse Simeone, técnico e ícone deste Atlético. - Não me incomoda que digam que o Atlético é só coração. Somos um time compacto, competitivo, que interpreta bem o jogo.

Do outro lado, o Real do elenco milionário, de imenso talento, que sabe manejar a bola mas que adora o contra-ataque vertical com Cristiano Ronaldo, Di Maria e Bale.

- Nós sabemos jogar com posse de bola, mas também contra-atacar. Será um jogo igual, até na tática - concordou Carlo Ancelotti, o técnico do Real Madrid que já ganhou quatro Ligas dos Campeões, duas como jogador, duas como técnico. Todas no Milan. - Em 2007, disse que desfrutaria a final porque poderia ser a última. Não foi a última. A última pode ser esta. Então, vou desfrutar.

Já Simeone busca seu primeiro título da Liga dos Campeões como personagem de uma comunhão poucas vezes vista entre time e técnico.

- Ele é como um Deus para nós. O que fala, acontece. Se falasse para saltarmos de uma ponte, pularíamos sem olhar para trás - disse o volante Tiago.

Davi x Golias

Quando se fala de números, parece mesmo um Davi e Golias. O Atletico realiza um feito para poucos. Na história do torneio, só Monaco e Porto, finalistas de 2004, chegaram à decisão sem estar entre os 10 maiores arrecadadores do planeta. O Atletico é o vigésimo. O Real, o primeiro.

Desde 2002, entraram nos cofres do Real Madrid R$ 17,2 bilhões. E nenhuma final de Liga dos Campeões foi jogada. Barcelona, Manchester United e Bayern, todos abaixo dos R$ 12 bilhões no período, fizeram três decisões cada. O Atlético, que neste período faturou R$ 2,7 bilhões, não joga uma decisão europeia há 40 anos.

Na última temporada, o Real Madrid, recordista mundial, arrecadou R$ 1,56 bilhão contra só R$ 362 milhões do Atlético. Em direitos de TV, a goleada é maior: R$ 500 milhões para o Real, R$ 150 milhões para o Atlético. Desde 2002, o Real Madrid investiu R$ 3,7 bilhões em reforços, segundo levantamento do jornal espanhol "El Pais".

O Atlético tem recorrido a fundos de investimento para contratar. Mas ninguém impactou tanto o clube quanto Diego Simeone. Assumiu no fim de 2011. Desde então, ganhou Liga Europa, Copa do Rei, Supercopa da Europa e, por fim, o título espanhol do último sábado. Tornou-se tão influente que a filosofia do "jogo a jogo" virou lema de todo o Atlético.

Foi assim que, por 38 rodadas do Campeonato Espanhol, suportou o ritmo de Real Madrid e Barcelona, com seus elencos mais caros e mais numerosos em estrelas.

Além do poderio financeiro, a história está ao lado do Real Madrid. E o clube fez questão de deixar isso claro. Levou a Lisboa representantes das outras nove conquistas europeias. Gento, presente nos seis primeiros títulos, cinco deles seguidos, entre 1956 e 1960; além de Amancio, campeão em 1966; Mijatovic, campeão em 1998; e Raul, artilheiro do time de 2000 e 2002, estiveram à beira do gramado do Estádio da Luz durante o último treino.

Se o rival despertou um carinho internacional pela garra, o Real Madrid se ocupou de argumentar que é um erro dar ao Atlético o monopólio de tal virtude.

- Na história do Real Madrid, há muito esforço também. É um clube onde os jogadores dão o máximo. Deixaremos a alma no campo - avisou Sérgio Ramos.

FONTE: GLOBO ESPORTE.COM